Assisti ontem a mais um episódio do Aprendiz 6 Universitário. Tinha comentado uma vez no
Bibibi que acho esse programa muito bom, já que cumpre perfeitamente seu papel de apresentar um Roberto Justus odioso e candidatos se engalfinhando. Até porque, em comparação com o que acontece nos originais gringos, é difícil nos programas brasileiros os candidatos se agulharem com convicção (excluo dessa lista o Big Brother, pois aquilo é cada vez mais roteirizado; sem falar que os participantes não são pessoas, e sim bonecos de plástico). Vide aquele programa da MTV em que dois caras disputam uma mulher ou duas mulheres disputam um cara: Dismissed, em inglês, Pé na Bunda, a versão brasileira, que nem existe mais. Coisa mais sem graça. Pois bem, voltando ao Aprendiz. Ontem na sala de reunião as duas meninas que estavam na berlinda (odeio essa palavra, mas não me veio outra) começaram a se atacar de maneira muito verídica, obviamente incitadas pelo Justus.
Acho o programa bom porque ele é bem real na reprodução do que é o sistema corporativo brasileiro. A começar pela própria entrada do Roberto Justus na sala de reunião. Sensacional. Mas analisemos os candidatos, que o Justus também não é uma pessoa.
Bom, se não me engano, nenhum deles vem de universidade pública. A maioria estuda em centros universitários caça-níqueis. Nada contra as universidades particulares, acho ótimo, mas é que é bem assim no mundo do terno e gravata também. Acontece que boa parte dos selecionados para fazer parte do programa é burra, tem visão de mundo zero (o que independe da faculdade que a pessoa cursou, quero deixar isso claro). Sem falar que alguns deles não sabem nem escrever. Não foi nesta mesma edição que escreveram "escultar" em vez de "escutar"? Ou seja: são candidatos assim que estão disputando teoricamente uma das melhores vagas de emprego do país? São. E o que é pior: a produção do programa fez testes e mais testes pra escolher os melhores competidores. E estes foram os vencedores!
As argumentações deles são absolutamente fracas, superficiais e, quando querem fazer uma análise psicológica dos fatos e dos outros concorrentes, aí que fica tudo vergonhoso. Só que o Justus acha tudo lindo (de verdade ele acha) e diz que isso é "saber se colocar". Aliás, tem algo mais corporativo do que "saber se colocar"? PQP. E a sensibilidade do ser humano, pra onde vai? A menina ontem quase foi demitida porque chorou no banheiro. (E ela afirmou veementemente que não chorou, que foi apenas "usar o sanitário".)
É, Fausto. Tem que separar o pessoal do profissional. E começo a desconfiar que essa separação do pessoal do profissional é o que tem cagado o mundo since Revolução Industrial. Aqui eu deveria ser o Denis funcionário. Depois das 7 é que posso ser o Denis Denis. Só que eu, por mais Paulo Autran que seja às vezes, não consigo me dividir bem nesses dois papéis. E sobra muito de funcionário no Denis Denis, e muito de Denis Denis no funcionário.
Enfim, não é à toa que esse mundo Vila Uó-límpia é dolorosamente artificial. Ou o barulinho toc-toc-toc do saltinho que as mulheres de terninho toc-toc-toc usam enquanto caminham pelo hall toc-toc-toc do edifício-potência é uma coisa toc-toc-toc que não dói toc-toc no ouvido de ninguém?
Olha, disso tudo só posso concluir que não me vejo participando de um programa como o Aprendiz. Nem por 1 milhão de reais (e muito menos para trabalhar com o Justus). Até porque tenho certeza que eu seria, se não o primeiro, o segundo eliminado. Não por falta de inteligência, mas por falta de adequação mesmo. Eu já me sinto inadequado aqui, fora do programa. Mas parece que o Justus desta vez não vai me demitir...