23 de set. de 2009

NUMEROLOGIA

Caminhando na chuva hoje, passei na frente do prédio onde eu morava, na avenida Jurucê (amo você). E, sempre que a gente passa num lugar onde a gente já morou, vêm aquelas lembranças de como era viver a vida ali. Eu gostava muito do apartamento da Jurucê, fui bastante feliz lá. Foi basicamente na época em que morava ali que consegui minha independência e deixei de precisar do dinheiro dos meus pais (até mesmo o aluguel eu passei a pagar). Foi morando lá também que comecei a sair de balada (velhos tempos da Trash 80's), que fui ficando mais amigo dos meus melhores amigos hoje, que fui desbravando a cidade e até mesmo o mundo. Os porteiros eram gente boníssima, os moradores eram supertranquilos (não tinham a voracidade de reformar o apartamento a cada quinze dias, como acontece no prédio onde eu moro hoje), a garagem era fácil de estacionar, enfim... Só boas recordações mesmo! E tudo isso num apartamento número 54, que, segundo a numerologia de Aparecida Liberato, não é lá o melhor número para uma casa.

Acho que só isso pra mim já comprova que a irmã do Gugu é mesmo uma farsa. Lembro que ela ia semanalmente no Domingo Legal fazer a numerologia das velhas do auditório.

— Qual o número da sua casa, querida?
— 122.
— Nesse caso, a soma dos números é igual a 5. E 5 não é um bom número. O melhor é o 6. Então, coloque uma letrinha A do lado do número da sua casa para atrair boas energias.

E isso se repetia durante três horas (o Gugu nunca teve noção de tempo) todo santo domingo.

Quando encheu o saco da numerologia para o lar, passou-se para a numerologia dos carros.

— Qual a placa do seu carro, minha senhora?
— ABC 1234.
— A soma dá 16, que é igual a 7. Também não é um bom número. Seria melhor se a senhora escrevesse no cantinho da placa a letra H, que equivale a 8. Assim, a soma de 7 mais 8 vai gerar um 15, que é o mesmo que 6.

E lá ficavam as gordas da plateia se engalfinhando para que a numeróloga lhes passasse a chave da felicidade também no nível automobilístico.

Quem é mais velho acompanhou ainda a febre da mudança de nomes dos artistas. Acho que foi no começo dos anos 90 que Sandra Sá acrescentou um "de", Jorge Ben repetiu o "jor" no final do nome, e por aí vai. Cristina Rocha encheu o nome de H's e Y's, mas hoje acho que voltou a ser Cristina. Núbia Oliver já fez de tudo também (dois I's, pôs R, tirou R, se duvidar trocou até o pingo do i por trema), mas continua semidesconhecida.

Enfim, não preciso dizer que acho tudo isso um monumento à abstração. Meu apartamento soma 9 me trouxe dias excelentes, e nunca precisei colocar nenhuma letrinha depois do número. Aliás, tem uma coisa que eu sempre quis perguntar pra Aparecida Liberato (e que considero mais uma prova da charlatanice da pessoa): se se somam as letras e números da placa do carro, porque não se somam também as letras do nome da cidade e da sigla do estado? Elas estão tão escritas quanto a letrinha que o pobre coitado vai pôr ali do lado, a lápis. O mesmo também pra casa: se você vai escrever um A do lado do número, por que não somar as letras que muitas vezes aparecem na pichação que tem na fachada ou mesmo numa placa, no caso de um estabelecimento comercial? Vai entender a lógica da Liberato. Falando nisso, por onde andará a dita-cuja? Ultimamente ela está tão desaparecida...

Um comentário:

conceição de maria disse...

gostei muito, me foi muito esclarecedor!!