28 de abr. de 2009

ALÔ, É DO TELEMARKETING

— Boa noite, por favor o senhor Denis Fran... Fras... Francassoli.
— Fracalossi, sou eu mesmo.
— Boa noite, senhor. Aqui é da central de relacionamento do banco Itaú e nós...
— Mas às 9 da noite?
— Olha, senhor, aqui é uma central de telemarketing e nós trabalhamos até as 9h20. Mas, se o senhor preferir, eu retorno a ligação em outro horário...
— Prefiro. Obrigado.

Fazia um certo tempo que eu não recebia ligação de telemarketing. Achei até que a lei que disseram que foi aprovada, dando limites à encheção de saco via telefone (como se a encheção de saco da vida cotidiana já não fosse o suficiente), estava dando resultados, apesar de na maioria dos menus dos serviços de atendimento por telefone de empresas ainda não constar a opção "falar com alguém de carne e osso" logo no começo, que passaria a ser obrigatória. Mas ligações em casa fazia um certo tempo que eu não recebia. Bom, talvez porque faz um ano que eu deixei de trabalhar de madrugada e agora não passo mais as manhãs e as tardes em casa. Lembro até que, na época, eu deixava o telefone fora do gancho para poder dormir até o meio-dia. Mas ontem à noite me ligaram.

E hoje de manhã também:

— Bom dia, senhor. Aqui é do clube de idosos e estamos promovendo uma campanha aí no seu bairro para arrecadar fundos. Qual o seu nome?
— Não quero doar nada.
— Obrigada, senhor.

Receber ligações de telemarketing é uma prova de que morar sozinho não vai te deixar mais ou menos solitário. Afinal, mesmo naqueles dias em que você simplesmente não quer sair de casa nem ver ninguém pela frente, você ainda poderá ter a magnífica chance de conversar com quem você não conhece por telefone. Uns tempos atrás até li numa reportagem do tipo "Saiba como morar sozinho e não se tornar um chato" umas dicas que diziam para você se obrigar a falar com atendentes de telemarketing para exercitar a simpatia e a tolerância.

Eu, que sou pouco simpático mesmo, já vou logo dizendo pro telefonista que não tenho interesse e desligo. Mas conheço relatos de quem diz ser a empregada, que a patroa não está em casa; ou de quem inventa que fulano se mudou, para não ter mais que receber ligações daquele lugar. Ou seja, caso você esteja ok com a sua tolerância, você pode aproveitar a ocasião para exercitar a criatividade, veja que maravilha!

Aliás, nesse quesito, não conheço melhor história do que uma que ouvi de uma amiga, protagonizada por um amigo dela:

— Bom dia, senhor. Aqui é da central de assinaturas do jornal O Estado de S. Paulo, e eu gostaria de oferecer uma assinatura para o senhor...
— Bom dia. Eu não posso assinar o jornal.
— Mas esta é uma promoção imperdível, com condições muito vantajosas para o senhor. Ao assinar o jornal, você entra para um clube...
— Não posso assinar o jornal.
— Mas o preço está em conta e, de brinde, fazendo a assinatura agora, você ainda ganha um aparelho...
— Olha, eu sou cego. Não posso assinar o jornal.
— Obrigada, senhor. E desculpa.

Por que não tentar isso em casa quando o telefone tocar da próxima vez?

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