4 de fev. de 2009

ALPHAVILLE NÃO É O LEBLON

Lordivan tem um sotaque acentuado*, é do interior, tem um Palio prata, aparenta uns 30 e poucos anos e talvez seja representante comercial, ou algo do tipo. Ângela está acima do peso, e isso faz com que ela sofra mais que os outros por causa do calor. Mora em algum condomínio chique na periferia de São Paulo, dirige uma caminhonete grande com quebra-mato e tem um celular cor-de-rosa. Pro Denis ainda faltam três anos pros 30, ele tem um Punto que comprou há pouquíssimo tempo, mas que já teve que voltar pra concessionária algumas vezes para trocar o pára-choque que veio torto da fábrica.

Os três nunca tinham se visto na vida (ou pelo menos parece que não) até ontem, dia em que o Denis foi almoçar em Alphaville com amigos de um ex-trabalho, Lordivan passava por São Paulo e Ângela saía de casa. Mas havia um certo trânsito no trevo de Alphaville, e o Denis parou o carro, o Lordivan parou o carro, e a Ângela não viu que todos haviam parado.

É engraçado como um acidente de carro coloca pessoas tão nada a ver uma com a outra frente a frente. Não é à toa então que vários autores de novela usam isso como argumento para fazer os personagens se entrelaçarem na trama. Mas, na vida real, isso nunca aconteceu. Não comigo.

Tenho tido a sorte (grande, enorme) de conhecer pessoas muito legais, que eu jamais sonharia conhecer, na academia, na internet, através de outros amigos... Mas batida de carro — e já foram algumas — nunca rendeu nada. Nem amizade nenhuma, nem namoro, nem novo emprego, nem desconto em farmácia. Nada. Só dor de cabeça mesmo.

Difícil então imaginar que, de um fato banal como esse, surja toda uma nova temporada na vida. Mas vai saber. De repente a vida é só uma sucessão de fatos banais mesmo, dos quais a gente depreende os sentidos mais inimagináveis, e sobre os quais a gente mais acha que tem poder do que de fato tem. Enfim, uma coisa meio Cate Blanchet sendo atropelada em Benjamin Button...

Mas, devaneios à parte, eu não espero ter vida entrelaçada nem com alguém chamado Lordivan nem com a Ângela. Espero só que ela pague o conserto do meu pára-choque recém-consertado e, principalmente, que eu não tenha que ficar indo atrás disso, que me dá preguiça só de pensar. Será que dá pra confiar na sorte?


*Seria "sotaque acentuado" um pleonasmo? Estava pensando nisso...

5 comentários:

Mariana disse...

Adorei esse! :) E comentário: lembre-se que Samira, a mestra, conheceu seu segundo marido num acidente de carro. Vai saber.

Anônimo disse...

Qué pasa con África y Asia que aún no entran al blog?
"Campaña de difución del blog en Asia: Bata o carro dum japonês do bairro da Liberdade"

Anônimo disse...

Nossa, a Samira, Samirona véia (de guerra)??? Uau, digno de Glória Perez!
Eu só sei que pensar em acidente de trânsito me dá calafrios.....

Heitor Nunes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Heitor Nunes disse...

Não confie na sorte. Ela não provoca acidentes de trânsito. E se alguém que você nunca viu antes, de repente lhe oferecer flores... c sabe, né?! :))