A arte de nomear edifícios e condomínios sempre foi uma coisa que me intrigou. Acho até que daria pra fazer um estudo detalhado sobre isso. Não sei se vocês já repararam, mas parece que há escolas de nomenclaruta predial, praticamente ismos europeus aplicados à construção civil.
Vamos à prática. O prédio onde eu moro se chama Edifício Caren. Dar nome de mulher aos edifícios é um movimento basicamente setentista, que se estendeu até meados dos anos 80. Chovem exemplares, eu mesmo já morei em vários: Edifício Gabriela, Edifício Áurea, Edifício Maria Eduarda, Edifício Joelma, Edifício Janete, Edifício Daniella, e por aí vai. O mais provável é que a origem desses nomes seja da própria família do construtor: nome da mãe, da filha, da avó paterna. É um verdadeiro desfile de damas pelos bairros da cidade, bonito de ver. Eu particularmente gosto de prédios com nome de mulher. Sem falar que é engraçado pensar que o movimento feminista aqui teve mais ouvidos: é muito mais fácil encontrar um prédio homenageando uma mulher do que um homem. Ou alguém já viu um Edifício Zé, um Edifício Carlão?
Tem também os edifícios que ressaltam a brasilidade, com nomes que vêm do tupi ou de qualquer língua indígena local. Embora seja cool hoje em dia valorizar as cores nacionais, esses edifícios são em geral mais antigos, das décadas de 50 e 60: Edifício Copaíba, Edifício Manacá etc.
Os anos 80 e 90 foram marcados por um resgate da cultura francesa. São dessa época os edifícios com nomes mais pretensiosos: Maison Van Gogh, Place Vendôme, e um sem-número de Chateaux de qualquer coisa. C'est très ridicule. Fico imaginando a classe média alta de quinze anos atrás se engalfinhando pra morar num desses. Os resignados que se contentassem com algum de nome inglês.
Mal sabiam eles, porém, que os anos 2000 chegariam e essa pagação de pau pros países do Canal da Mancha ficaria demodée, out of fashion. Pro público muderno, as construtoras passaram a apostar nos nomes em italiano, de tonalidade leve, solta, ma che bello. Só andar pela cidade pra ver que os prédios mais novos têm todos nomes do tipo Inspiratto, Duo, Villagio... Vêm até com um ventinho do Mediterrâneo na planta, além da brinquedoteca, do espaço gourmet, do home cinema, é claro.
Mas como exclusividade é a palavra de ordem dos nossos tempos, as construtoras tiveram que criar um novo nicho dentro dos mudernos, pra quem é mais in ainda. Nesses casos, nada como exaltar o estilo de vida próprio morando num prédio que se chama Urban, ou num outro que se chama Hype, ou ainda num que se chama Glam.
Só que os melhores nomes são aqueles que você olha e começa a dar risada sozinho — e aí valem as referências de cada um pra achar graça naquilo que não se pode explicar. O que dizer de um prédio chamado Eloy Chaves? Ou de um King Alexander? Ele poderia até se casar com o Queen Elizabeth. Tem também o Edifício Bamby, o Edifício Cinderela... Criatividade rules. Mas nunca vou achar nome melhor do que o de um prédio em que morei uns anos atrás. Não só pela bizarrice, mas porque o nome alinhava perfeitamente o que significava sua localização, seus condôminos e sua presença de cena. Era o Edifício Apolo Studium. Esse sim, um nome imbatível.
10 de fev. de 2009
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5 comentários:
edifício Alan (Ãlã).
Não. O que dizer de um que eu encontrei na rua Aurora, batizado com um nome próprio. O primeiro nome do gajo homenageado no prédio eu acho que é Eduardo, pode ser Godofredo, ou Alfredo, ou Almeida, esse nome não lembro bem qual é. Agora, o sobrenome.... é inesquecível: Edifício "Eduardo" Gordinho.
moro num lugar que foi "planejado" e ao final de todas as construções serão 450 prédios. você ia se divertir por aqui. hahaha
Fica onde o edifício Ãlã? heheheh... Tem apartamento pra alugar ainda?
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Gordinho? Mas que edifício mais fora de tendência! A mora agora é secar... rs. Brincadeira. Achei master fofo o nome!
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Famosa dona Dre!! Brigadão pela visita! =D Isso é um convite pra conhecer a maquete com vida e quem sabe escrever um post sobre as superquadras? Hmmmm... me gusta la idea! Mas vamos soltar o gingado todos juntos na Cidade Maravilhosa antes!! Bjão!
Haha... assim que comecei a ler seu texto já estava pensando no "famoso" Apolo Studium! Divertidíssimo o texto e o blog, DF!
abraços editoriais, ex-ecanos e ex-manolísticos,
Marcel
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